quarta-feira, 7 de maio de 2014

Para entrar no ritmo.


Para entender melhor a China é preciso esquecer às vezes algumas coisas que pra gente parecem ser tão normais. É preciso fazer um exercício de imaginação ou fazer de conta que acabou de nascer e olhar para as coisas como se nunca tivesse visto aquilo ou pensado naquilo. Daí então procurar enxergar com olhos novos, tentar compreender pela perspectiva de quem viu aquilo desde que nasceu e sempre achou normal. Nada fácil, nada fácil mesmo. A gente tende a ver o mundo com os olhos treinados e a cabeça cheia de conceitos e ideias fixas. Sair desta zona de conforto é bem difícil, é estressante. Mas, é um exercício necessário se não se quer incorrer num erro bobo que infelizmemte acontece com mais frequencia que se pensa que é o de julgar comportamentos a partir dos nossos valores particulares, ou dos da nossa cultura.
Rua Nanjing em Xangai
Uma coisa é se você está viajando de férias por um lugar muito diferente daquele onde vive, um lugar exótico, distante, com uma cultura muito esquisita e sabe que vai voltar pra casa cheio de ótimas histórias para contar sobre aventuras malucas com gente vestida de paetês, de moças que saem de blusa e meia calça, mas que não colocam a saia, gente que anda de pantufa e pijama nas ruas e que escarra e cospe no chão ...... "Puxa vida, estava comendo cabeça de peixe e tendo que engolir os olhos pra provar que era macho, quando um cara na mesa do lado fez um pum bem fedido enquanto chupava o macarrão fazendo o maior barulho....kakakaka!" 
Vai um espetinho aí?
 Outra coisa bem diferente é você ter lidar com estes comportamentos no seu cotidiano. Consegue imaginar como seria almoçar todos os dias ao lado de alguém que pode a qualquer momento soltar um sonoro arroto na sua cara com a maior naturalidade? Andar pelas calçadas com todos os sentidos ligadíssimos se não quiser ser atropelado por um carro ou caminhão que vai entrar ou sair de um estacionamento sem nem olhar para os lados? Que tal atravessar um cruzamento com sinal de pedestre verde mas de onde aparecem carros, motocas e bicicletas (e gente, muita gente!) por todos os lados? 

Escultura em bronze do artista Liu RuoWang, 2011.


 Lidar com o que é diferente uma ou outra vez faz do diferente "exótico", por outro lado, ter que lidar com o que é diferente no dia-a-dia transforma-o em estresse. Por isso, morar num país tão diferente como a China exige uma carga emocional muito grande. Depois do encantamento vem o medo e talvez o desespero, alguns (muito mais do que você imagina) não dão conta e voltam para seu país, outros se isolam na "bolha" do mundo de expatriados, nas pequenas comunidades de seus conterrâneos ou de sua empresa, ou em comunidades internacionais e vivem numa realidade paralela. Criam uma subcultura de expatriados com pouco contato com chineses da terra.





E outros poucos resolvem que tem que se adaptar. Isto significa aprender o quanto conseguirem de uma língua impossível, se enfiar pelos becos pouco conhecidos, comer toneladas de arroz e alho e especialmente tentar dar risada das situações mais bizarras. Acho que é a escolha mais difícil em todos os sentidos, mas com absoluta certeza é a mais compensadora. Poder andar de motoca elétrica no meio da confusão a "toda velocidade" e fazendo manobras radicais ... não tem preço!
Cruzamento da Guomao em Pequim.


2 comentários:

  1. Adorei o desfecho com a motoca! Ai, ai. Nada como uma motoca!!

    ResponderExcluir
  2. É a parte mais divertida, Victor!. Bj.

    ResponderExcluir