Bem-vindo ao maravilhoso mundo novo chinês, real com uma pitada de cinismo: a China pelos chineses.
Um dos lugares mais fascinantes de Beijing é o Distrito de Arte Dashanzi, ou como é mais conhecido, o 798 (qi jiu ba). É um lugar onde tudo pode acontecer, tudo pode ser criado, representado, performado. Há desde grandes ateliers e galerias de artistas plásticos famosos - e muito ricos - até pequenas oficinas que resgatam cacos de porcelana antiga (que foram obrigados a jogar fora durante os anos de repressão da Revolução Cultural) e os transformam em peças de bijuteria.
Veja se
você consegue imaginar: durante anos a criatividade e a arte na China só podiam
ser manifestadas “patrioticamente”. A arte engajada comunista era a única maneira
de expressão aceita. Quem ousasse ser diferente, ocidentalizar ou resgatar
clássicos de qualquer forma de expressão artística prévia à criação da
República Popular da China poderia sofrer desde punições físicas até a pena
capital. É isso mesmo! Pinturas no estilo clássico chinês em papel de arroz,
porcelana, teatro das sombras ou as populares óperas que tocassem em qualquer tema
considerado impróprio eram terminantemente proibidos.
Que horror! Quem poderia
imaginar? Como se nós não tivéssemos também vivido a nossa própria forma tupiniquim
de Revolução Cultural durante os anos de ditadura militar no Brasil.
E
agora, junte o aumento considerável de liberdade de expressão (não é total ainda não, lembram-se do
Ai Wei Wei?) com dinheiro a rodo, muito dinheiro $$$$$$!
E voi-lá! Arte pulsante,
produção alucinada de todos as formas de expressão, para todos os gostos. Isto
é o 798, um antigo distrito industrial que foi ocupado por artistas de vanguarda e que é hoje um dos lugares mais interessantes e representativos da China.
A gente
tropeça em esculturas pelas calçadas, escondidas nos becos, jogadas no chão.
Tem instalações inusitadas, coisas super kitsch e coisas super bacanas.
Muita
gente acredita que Beijing hoje é o lugar da efervescência cultural do mundo,
assim como foi a Florença do Renascimento, Paris no século XIX e Nova Iorque
num passado recente. Sei lá... A maior tendência por aqui é o que chamam de "Realismo Cínico", um escancaro das consequências psicológicas das mudanças drásticas por que a China tem passado, da abertura para o Ocidente à urbanização frenética. Uma sátira a si mesmos.
A história do lugar é muito legal. No início dos anos 50 o recém fundado país comunista lançou seu primeiro grande plano de desenvolvimento para os próximos 5 anos. Em parceria com a então Alemanha Oriental, numa área conhecida como Dashanzi no leste de Beijing, na época afastada do centro da cidade, foi criado um distrito industrial para produção de tecnologia de ponta.
As construções ficaram a cargo dos alemães que optaram por adotar um estilo Bauhaus para a obra. Quase 20 mil pessoas trabalharam no complexo que foi oficialmente chamado de “Conjunto de Fábricas 718” seguindo o método do governo chinês de dar nomes às fábricas militares começando com o número 7.
Mas,
com a política de abertura de Deng Xiaoping nos anos 80, o governo passou a
deixar para segundo plano as empresas estatais e o 718 acabou sendo reduzido a
menos de 20% do que antes era operacional. Muitos edifícios foram abandonados e
assim permaneceram até meados dos anos 90.
Em 1995
alguns artistas de vanguarda se viram despejados da área onde estavam
instalados e acabaram migrando para os grandes espaços de pés direitos altos,
arcos e grandes vãos do 718. Acompanhados logo na sequência pela Academia
Central de Belas Artes em busca de mais espaço.
Finalmente
em 2002 foram inauguradas as grandes galerias e exposições que atraíram
multidões de fãs, entre elas o Espaço 798 que acabou emprestando o nome ao
lugar.
Grudado
ao 798 está o 751 D-Park (design park) onde a maior parte das antigas
construções abandonadas foi ocupada pela indústria criativa, especialmente pela
indústria da moda e do design.
Há
cafés e restaurantes por todo canto e Dashanzi agora virou um lugar
pós-industrial chique - que genial! -, é o centro da nascente BoBo (Bourgeoise bohème /
burguesia boêmia) pequinesa.
E
guardinhas meditabundos em meio à tanta expressividade.
Com o
crescimento da cidade o Dashanzi hoje fica numa área super valorizada entre a “Gringolândia” e
o centro tradicional.
É um lugar divertido. As pessoas passam o dia perambulando pelas ruas, tirando fotos, encontrando amigos, vendo uma exposição aqui, uma lojinha acolá. Tomando um chazinho aqui, uma cervejinha acolá.
Noivos adoram usar o local como cenário
para as fotos do álbum de casamento, que na China é feito ANTES do casamento e
mostrado pros convidados no dia do evento.
Esta abaixo é
uma das minhas galerias favoritas. O artista é o Liu Shanmin. Para mim parece um
Miró do oriente.. rs. Lindo.
Eu bem que quis adquirir uma das obras dele. Fiquei encantada, mas infelizmente não tenho o dindim disponível para este tipo de abuso. Custava U$ 5.000 o meu objeto de desejo, que se tratando de 798 nem é muita coisa. Há obras superavaliadas em centenas de milhares de dólares. Até que fui humilde...hehehe. A girl can dream....
Bom, acabei fazendo o que sempre faço nestes casos: comprei o livro. Agora posso ficar viajando nas páginas. :)
Olha eu no reflexo do vidro. Não estava planejando um assalto não. Dia de poluição muito alta tem que sair de casa assim mesmo, de máscara, fantasiada de sobrevivente pós-hecatombe nuclear. Isto é o ó-do- borogodó.
Dinossauros vermelhos me mordam!
Mas o
que eu gosto mesmo no 798 é a possibilidade de ver coisas lindas e malucas o tempo todo, de acompanhar
como uma sociedade tão fechada e antiga como esta, pode ser ao mesmo tempo tão
flexível e aberta ao novo, à experimentação, à ousadia. Como podem rir de si mesmos, com criatividade e coragem.
再见。
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