Em "nosso mundo" os direitos do indivíduo são uma pedra angular da formação do pensamento e dos nossos valores. Temos o direito de ser e fazer, de nos manifestar ao mundo como seres autônomos, com vontades e desejos próprios que devem ser respeitados por todos os outros indivíduos. Cada um se enxerga no mundo como um ser inteiro com autonomia própria e, pelo menos em tese, o principal responsável por suas escolhas.
Herdamos tais valores do Humanismo, do Iluminismo, da Revolução Francesa, do liberalismo norte-americano. Ora bolas, a China nunca passou por nada parecido com estes movimentos ou revoluções. O mais conhecido pensador da China é Kong Zi, ou melhor, Confúcio, que viveu há meio século antes de Cristo (há também o Taoismo e o Legalismo, duas outras grandes correntes de pensamento chinês, mas aqui não é o lugar para nos estendermos). O que Confúcio produziu, grossíssimo modo, foi um manual baseado em rígidos princípios éticos e morais para orientar o comportamento dos indivíduos em sociedade. Cada um em seu lugar e desempenhando o papel esperado para que o mundo fique numa ordem hierárquica e harmônica. Deste modo, todos são parte de um grande todo que funciona como uma coisa inteira e coesa respeitando o lugar das coisas e das pessoas e produzindo a Grande Harmonia. Claro que este mundo perfeito confuciano é um ideal e está longe de ser realidade. Mas, o mais importante é que ele contém os valores fundamentais que orientam a moralidade e a vida na China.
Aqui, e em quase todas as sociedades asiáticas, a hierarquia social e os deveres para com o coletivo se sobrepõem às vontades do indivíduo. O peso das obrigações sociais é muito maior do que o de seus direitos individuais. Na mentalidade dos chineses esta ordem de importância (1º as obrigações com a comunidade; 2º as vontades individuais) é preponderante e inquestionável. Saber isto é fundamental para compreender melhor a China.
Escultura em Xangai. |
Este é mesmo um marco (milestone) que orienta a visão de mundo e os valores culturais e morais na China. Compreender esta diferença ajuda em
muito a interpretar os comportamentos dos chineses em várias situações que, para nossos padrões, parecem ser apenas mais chinesices.
Ming bai le ma (entendeu)?
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